sábado, 6 de setembro de 2008

Gratas!

Este post é feito especialmente para agradecer a um grande amigo: Márcio Bracioli!
Ele é o criador deste novo layout do nosso blog.
Lembram que antes era lilás e rosa claro???? Mudamos completamente...agora ele é preto!
A idéia é de ser luz para o mundo, de semear a palavra do Senhor, de obedecer o IDE de Deus.... esperamos que todos tenham gostado da nova cara do nosso blog!
Márcio, obrigada por tudo! Que você continue sendo essa benção sempre e que Deus realize todos os seus sonhos! Sucesso garoto!

GRATAS – Tamyris e Angélica!

Agora um texto dele...muitoooo bom!
Vale a pena ler...



DEUS ABENÇOOU O RELÓGIO QUEBRADO


As manhãs de janeiro costumavam ser agitadas em sua vida. As horas passavam sempre rápidas, quase não dava tempo de aproveitar as boas coisas que estavam acontecendo. Vinte e quatro horas passavam na velocidade de uma, e aquilo que era possível se fazer em uma, sempre ficava pra depois.

No dia 10 de janeiro ele acordou as 06h30min da manhã, deu uma bocejada, coçou o braço, esfregou os olhos, e penosamente se levantou da cama. Em meio aos poucos passos entre o quarto e o banheiro pode-se ouvir um quase irreconhecível “bom dia”, uma breve saudação a seu pai que já estava desperto. E a rotina seguia como em quase todas as manhãs do ultimo ano: acordar, dar bom dia ao pai, tomar banho, engolir rapidamente o café da manhã e partir para mais um dia na estrada.

Nas ruas, pessoas se encaminhavam aos seus postos de trabalho, ônibus de estudantes rumavam para suas respectivas universidades, e ele não fazia diferente. Com sua moto vermelha ano 2005, que foi uma das maiores conquistas de sua vida, estava indo para o seu trabalho, mas antes disse precisava percorrer cerca de 10 km.

Uma das características herdadas de seu pai, além do rosto e do cabelo, foi a vontade e alegria de trabalhar. Ele não tinha qualquer resistência em enfrentar a estrada todos os dias para ganhar um pequeno desconto em sua faculdade. Ele era monitor de uma equipe de futuros jornalistas. Todo o dia apresentava programas em uma rádio universitária, e tinha muito orgulho disso.

Antes de ir ao trabalho, ele sempre dava carona a uma amiga que freqüentava a mesma igreja que ele. Ao chegar na cidade vizinha, onde trabalhava, foi até a casa dela, esperou alguns minutos e logo já estava próximo de mais um dia de trabalho. Na locomoção entre os dois pontos que não eram tão próximos, sua amiga reparou no novo relógio que ele estava usando: “Que relógio bonito!”, obrigado, comprei no camelô, respondeu ele.

Em 20 minutos ele já tinha deixado a amiga no trabalho, a desejado um bom dia na labuta, e partido para a sua luta pessoal. Aquele dia era especial, pois como se tratava de ser o inicio do ano, alguns de seus companheiros estavam viajando, fazendo com que a equipe da rádio tivesse reforço de amigos que trabalhavam em outro turno. Era uma alegria incontável, depois de muito tempo ele iria dividir o microfone com uma grande amiga, como há muito não fazia.

A hora de ir embora se aproximava, e no ultimo intervalo antes do fim da transmissão, um assunto inusitado surgiu na conversa dos amigos. O que é esse A+ no seu capacete, perguntou um dos companheiros, é para o caso de algum acidente, se eu perder sangue e precisar de transfusão, os paramédicos saberão qual meu tipo sanguíneo, mas você nunca vai precisar disse né?, Perguntou com ar de exclamação a sua adorada amiga, nunca se sabe.

Como já se passava do meio dia, a fome estava pesando demais no estomago dele, sem pensar muito resolveu ir embora. Novamente ele iria enfrentar a estrada. Tchau gente, até amanhã, isso se eu não morrer em algum acidente, brincou ele. Para de falar besteiras menino, brinca com essas coisas não, respondeu nervosamente a amiga. Nunca se sabe, e se eu bater as botas? Bem, até amanhã. Mais alguns passos e ele já estava em cima de sua moto, ciente de que em alguns minutos estaria em sua casa, estirado em seu confortável sofá de couro envelhecido.
Desceu uma pequena ladeira que fazia a alegria de muitos motociclistas malucos como ele, e logo estava na rua dava acesso a rodovia vicinal que ia até sua cidade. Ele estava feliz, cantarola uma canção de amor, e isso, aliado com pensamento distante, fez com que por algumas vezes ele perdesse noção da realidade e passava a não prestar atenção por onde andava.

Em um cruzamento, desligado como estava, tentou ultrapassar um fusca, mas não percebeu que o carro estava com a seta ligada... Ouviu-se apenas o barulho de freio, e uma forte colisão, fazendo com que as pessoas que estavam nas lojas perto do local, saíssem para ver o que aconteceu.

Passaram-se muitos segundos. Ele estava ali, deitado no manto preto de asfalto. Apesar do perfeito estado de seus cinco sentidos, ele estava conscientemente inconsciente. Muitas imagens passaram por sua cabeça. Pensou em seu pai, no sorriso de sua mãe, no abraço caloroso de sua irmã, no “até” logo de sua amiga. Tentou pensar em muitas coisas, mas nada naquele momento podia fazer com que a dor cessasse.

Depois de um tempo ele se levantou, checou se não havia nenhum osso quebrado. Correu e levantou a sua moto. Quando levantou a cabeça, viu que estava em meio a um circulo de pessoas, mas o que o chamava atenção era seu tênis jogado do outro lado da rua, sua carteira toda rasgada caiu em terreno perto do local. Abaixou a cabeça e percebeu sua calça toda rasgada. Parecia um andarilho que há meses não trocava de roupa. Seu braço estava ralado, seu joelho rasgado, sua mão estilhaçada, seu peito dolorido, afinal toda a parte da frente da moto fora arrancada pelo seu corpo.

A dor física era irrisória perto da dor psicológica. Uma lágrima escorreu por seu rosto. Aquele pequeno ponto de água dizia muita coisa que ele não tinha coragem de dizer, aquele pingo significava vergonha de uma “barebeiragem”, representava a quebra da confiança de seus pais, o medo das conseqüências e principalmente revelava que dentro do coração sempre confiante dele, havia ainda um garoto que tinha medo das coisas que fazia de errado.

Ele ligou para seu pai, e não conseguiu conter o pranto depois que ouviu seu pai dizer carinhosamente “não quero saber da moto. Você está bem? É isso que me importa”. Estou pai, estou bem, mas a moto está espedaçada, droga, que eu fiz. Calma, eu estou indo ai, não se machucou né? Não, me ralei um pouco, mas nada de grave.

Tudo passou rápido como em um disaster movie. Depois de alguns exames, revelou-se que tudo estava na mais perfeita ordem com seus órgãos internos, e segundo o médico, sua vida não foi abreviada graças a sua barriga avantajada, que amorteceu a batida fazendo com que nenhuma costela se quebrasse, e conseqüentemente furasse algum órgão vital. Ao sair do hospital, ele queria ver que horas são, olhou seu relógio, tão elogiado pela amiga, e viu que ele estava todo quebrado e com a carcaça arranhada.

Naquele momento ele percebeu que a sua vida era como um relógio. Poderia ser nova, bonita, funcionar bem, mas pode se quebrar toda se não tomarmos o mínimo cuidado. Aquele objeto no pulso esquerdo dele significava sua vida: quebrada, arranhada, destruída, mas graças a um motor que não se podia observar ele ainda estava vivo.
Ele sou eu, e esse motor é Deus.

* Por Márcio Bracioli